Depois dos 50 anos, eu vinha fazendo exames audiométricos a cada 2 ou 3 anos. O pessoal de casa ia-me sinalizando quando eu começava a pedir para meus interlocutores repetirem o que haviam acabado de me falar. Foi assim que fui assumindo a minha gradual perda auditiva, a qual não parecia tão grave, já que as fonoaudiólogas que assinavam o laudo desses exames jamais chegaram a recomendar que eu procurasse a ajuda de aparelhos auditivos.
Maior dificuldade auditiva apresentava a minha filha caçula. Quando chegou aos 30 anos, sentia o quanto a comunicação prejudicada lhe estava atrapalhando o relacionamento profissional e acadêmico. A menos que o diálogo nos tenha sido diretamente dirigido, chega uma hora, que a gente deixa de tentar entender o que os outros dizem, na maior parte das vezes em que fica na incerteza de os ter ouvido corretamente. Por sorte, a sua médica otorrinolaringologista recomendou-lhe uma consulta com a fonoaudióloga Alessandra Anjos Herrera. Ela sentiu-se tão bem tratada e contente com o resultado dos aparelhos auditivos que um ano depois me convenceu a também consultar a Alessandra.
O argumento que me levou à aquisição dos onerosos equipamentos auditivos foi o de que à medida em que nossos sensores e nervos auditivos passavam a ser menos sensibilizados tendiam a contribuir para a inatividade e definhamento da parte que lhes era receptora, em nossos cérebros. Ou seja, no meu entendimento leigo, o problema auditivo poderia transformar-se, em alguma medida, numa irreversível limitação cerebral.
Com muita paciência e clareza didática, Alessandra explicou-me alguns indicadores pelos quais iríamos monitorar a minha recuperação auditiva. E em cerca de 3 meses eu já havia conseguido evoluir para a normalidade esperada, o que na prática, se traduziu por ter deixado de insistir com os pedidos de repetição a meus interlocutores ou o entendimento equivocado das suas afirmações. No meu caso, da faixa de valores em que a comunicação humana se expressa, a minha dificuldade era apenas numa pequena faixa de sons mais agudos. Por isso, o seletivo acerto dos equipamentos era mais difícil. Em sucessivas sessões, Alessandra foi fazendo esse ajuste fino. Ainda assim, ruídos prosaicos do dia a dia aparecem muito amplificados, algumas pessoas com voz mais elevada tendem a nos agredir de forma tonitruante e continua difícil a conversação em ambiente sonoramente mais poluído, como, por exemplo, num restaurante. Infelizmente, outra enfermidade mais recente obrigou-me a interromper o aprendizado de coexistência com os aparelhos nessas situações.
Às vezes, a pretexto de coisas ruins somos levados a conhecer excelentes profissionais. Este foi o caso de Alessandra Anjos Herrera, uma pessoa cuja inteligência e sensibilidade já seria um privilégio desfrutar, e cuja competência, como fonoaudióloga nos transmite muita segurança.